Para os interessados na conservação de livros!

Uma caixa de primeiros socorros para livros
Antonio Gil Neto





Num dias desses, em conversa com professores sobre leitura e livros, um deles disse veemente que se o livro pode definhar, desgastar-se, estragar, adoentar-se e até morrer pelo seu tempo de manuseio em favor das leituras não precisamos então conservá-los. São objetos de consumo.

Logo me veio aquela ideia de fileiras de livros de capa vermelha, com seus escritos em dourado, ricamente encadernados, empilhados militarmente em estante nobre e em sala majestosa. Feito andor de padroeiro e que ninguém toca. E muito menos lê. Esse tipo de livros de efeito decorativo é um museu de leituras mortas. Conserva-se o material e morrem as leituras.

Por outro lado, em se pensando naqueles livros mais frágeis, sem couro e papel refinado ou potente, de uso e consumo escolares e domésticos, sinto que precisam ser conservados, cuidados. Como cuidamos de amigos, pessoas queridas. Eles carecem de algum trato para se manterem vivos, prontos para serem devorados pelo consumo dos leitores e virarem de fato seus destinos: leituras.

Cá entre nós, todo mundo que lida com leitura deve ter sua caixinha de primeiros socorros para que seus livros continuem bem apresentados, manuseáveis, dirigíveis em suas viagens leitoras pilotadas pelo leitor, não é?

É disso que vamos tratar aqui: de conservar ou recuperar livros.O negócio aqui é tratarmos de cuidar do objeto livro, do seu corpo material para que as palavras possam continuar morando nele e desabrochar nas múltiplas intenções e dinâmicas leitoras.

Imagino até que uma biblioteca ou sala de leitura, ou mesmo seu armário de classe ou de casa deva ter seu arsenal particular para cuidar desse objeto tão precioso: uma caixa, uma gaveta ou um cantinho dela com alguns materiais para a limpeza e a saúde dos livros. Numa grande biblioteca, dessas de cidade maior, há até um setor e profissional restaurador para isso. Mas não precisamos chegar a tanto para o mote de nossa conversa.

Ouso brincar de pensar que isso ainda acontecerá enquanto o livro de papel existir. As palavras já estão morando em outros materiais. Assim, salvamos a nossa Natureza. As suas casas, não sendo mais de papel, ficam imunes ou menos sujeitas às intempéries, fungos, coisas assim. Além de outro modus operandi leitor, é claro. Por enquanto...

Vamos lá: aquele livro que você adora, lê e relê de vez em quando, começa a dar sinais de cansaço? A lombada parece não estar mais intacta, as páginas estão se soltando e até já fizeram a história mudar de rumo: o começo no fim, o início no meio, sabe-se lá!  Outro episódio: e não é que um inseto mais abusado e atrevido fez da sua obra literária a morada dele? Mas o desfecho de cada historinha pode ter final feliz. Com alguns truques e cuidados é possível fazer seu livro ganhar boa aparência novamente. Com um pouco de sondagem e dedicação o fantasma da má conservação poderá desaparecer do seu espaço de guardar livros. Ou melhor, descansar. Ficar alertas, a postos para os novos encontros. Experimente algumas dessas dicas para a sua tarefa de primeiros socorros. Dos livros.


Contra invasores



Para não sofrer com as temíveis traças, cupins, brocas e outros invasores indesejáveis, anotem a primeira dica: “É bom abrir os livros uma vez a cada seis meses para ver se está com insetos. Como agem à noite, não os encontraremos durante o dia. Então, bata levemente no livro com as páginas abertas sobre uma folha de papel branco. Se cair uma espécie de poeira é porque os insetos andaram por ali”, ensina Tercio Gaudêncio, membro fundador da Associação Brasileira de Encadernação e Restauro. Vale ressaltar que também não é recomendável manter as obras perto de plantas já que elas atraem insetos – os maiores vilões dos livros depois, é claro, do homem. Segundo Tercio, que no momento está restaurando uma bíblia do ano de 1555, quebrar a cadeia alimentar dos invasores é a chave para o sucesso! Nesse caso, a compra de um mata-mosquito elétrico pode ser a solução. Além disso, é preciso tomar algumas providências para que os fungos e insetos não migrem para outros exemplares. Coloque o livro infectado em um saco plástico, feche bem e ponha no freezer. Quinze dias depois, coloque o embrulho na parte mais quente da geladeira e deixe por uma semana. Ao retirar, ponha o livro em uma estante fresca e arejada. Dessa forma, mais de 90% dos insetos e fungos serão eliminados.


Páginas coladas



E se as páginas colarem? Se isso ocorreu por excesso de umidade e as páginas foram pressionadas umas contra as outras, esqueça. Nada vai funcionar. Se, ao contrário, elas não sofreram qualquer pressão deixe o livro secar naturalmente. “Aberto e em local arejado. Se possível, com um ventilador ligado. Se as folhas não forem pressionadas, o livro será recuperado”, garante Mario Luiz Gomes, restaurador e dono do Sebo Homo Sapiens.

Cadernos soltos

Para evitar que as folhas do livro se soltem, quando tirá-lo da prateleira, evite puxá-lo pela parte superior. O certo é empurrar o exemplar e puxá-lo pelo meio da lombada. Se os cadernos já estiverem soltos, será preciso comprar uma cola metil-celulose (livre de acidez) e tiras de papel mino para colar cada caderno e, posteriormente, fixá-los na lombada. Mas lembre-se: em alguns casos mais graves será preciso procurar um especialista em restauração.

Melhor prevenir que remediar


Se você não sofre com os males acima e seus livros estão conservados anote as dicas de prevenção: é importante guardá-los em local limpo, arejado e com pouca umidade. Isso significa que é fundamental lavar as mãos antes de manusear os livros, como recomendam as normas internacionais de biblioteconomia. Também se deve evitar lamber os dedos para passar as páginas já que a saliva é ácida e danifica a obra. A luminosidade não pode ser excessiva e, tampouco, nula. Portanto, nada de caixas fechadas ou sol incidindo diretamente sobre o papel, o que causa reações químicas que atraem fungos e rompe as fibras da celulose. Se for importante encapar o livro, use apenas papel. Nada de durex, que deixa cola no livro e garante alimento para os fungos. Contact, então, nem pensar!

Se você conhece ou usa alguma outra técnica para conservar livros deixe aqui a sua dica.



Disponível em: http://www.escrevendo.cenpec.org.br

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